Pensamentos Políticos do século XIX

O século XIX foi um período de grande efervescência intelectual, especialmente no que diz respeito à visão da sociedade, da política, da organização dos cidadãos e como isso tem relação com a economia e cultura. As ideias políticas e sociais do século XIX têm relação com problemas sociais, surgimento de novos sistemas político-sociais e também associa-se com importantes temas da vida geopolítica atual.

Por exemplo, o liberalismo é um assunto que ainda é contemporâneo, presente em discussões internacionais, nacionais e políticas. Outros temas que surgiram ainda nos anos 1800 foram socialismo, anarquismo, debates sobre questões étnicas e raciais.

Capitalismo

O capitalismo é um sistema em que predomina a propriedade privada e a busca constante pelo lucro e pela acumulação de capital, que se manifesta na forma de bens e dinheiro. Apesar de ser considerado um sistema econômico, o capitalismo estende-se aos campos políticos, sociais, culturais, éticos e muitos outros, compondo quase que a totalidade do espaço geográfico.

A base para formação, consolidação e continuidade do sistema capitalista é a divisão da sociedade em classes. De um lado, encontram-se aqueles que são os proprietários dos meios de produção, a burguesia; de outro, encontram-se aqueles que vivem de sua força de trabalho, através do recebimento de salários: os proletários. No caso do meio agrário, essa relação também se faz presente, pois os donos das terras, geralmente latifundiários, ganham lucros sobre os trabalhos dos camponeses."


Liberalismo

Liberalismo é uma visão política, social e econômica que surgiu no século XIX, com base em estudos propostos por diversos teóricos importantes da época como John Locke, Montesquieu e Voltaire. Do ponto de vista econômico, Adam Smith foi o estudioso inglês responsável pela consolidação do conceito de liberalismo econômico.

Como aponta o nome, o liberalismo busca certa liberdade para as entidades políticas, sociais e econômicas. As primeiras ideias que fundamentam a ideologia tinham por objetivo a oposição ao absolutismo monarquista que imperava nos estados europeus da época.

No âmbito mais individual, o movimento pregava a liberdade dos cidadãos, com direito à vida, liberdade e à propriedade privada. Em termos políticos e econômicos, os liberalistas buscam que o mercado flua de maneira livre, sem muitas intervenções estatais.

De forma geral, o liberalismo econômico é uma base importante para o desenvolvimento do capitalismo, regime socioeconômico que impera na maior parte dos países atualmente.

Nos estados liberalistas, a função principal do governo é ser, de maneira simplificada, um mediador indireto dos problemas sociais, econômicos e políticos. Dentro desta estrutura, a atuação direta estatal sobre diferentes questões da sociedade é uma via pouco aplicada.

Até porque, como muitos dos pensadores envolvidos na teoria viviam em um contexto monarquista, queria se afastar do autoritarismo típico desse sistema social.

Socialismo

O socialismo é uma ideologia política e econômica que visa a criação de uma sociedade mais igualitária, na qual os meios de produção, como fábricas e recursos naturais, sejam controlados coletivamente em vez de estarem nas mãos de indivíduos privados. A ideia central do socialismo é a redistribuição de riqueza e a eliminação das desigualdades sociais, promovendo uma economia baseada na justiça social e na solidariedade. Em vez de permitir que o mercado livre regule a distribuição de recursos e oportunidades, o socialismo propõe que o Estado ou as comunidades organizadas assumam um papel ativo na gestão econômica para garantir que todos tenham acesso às necessidades básicas e que o poder econômico seja mais equitativamente distribuído. 

O socialismo utópico é uma corrente do pensamento socialista que surgiu no início do século XIX, caracterizada por idealizações sobre uma sociedade ideal e justa, baseada em princípios de igualdade e cooperação. Os socialistas utópicos, como Charles Fourier, Robert Owen e Étienne Cabet, propuseram modelos de sociedade em que as injustiças sociais seriam eliminadas por meio de reformas sociais e econômicas. Fourier imaginava comunidades cooperativas chamadas "falanstérios", onde a propriedade seria compartilhada e as atividades de trabalho seriam organizadas de maneira harmoniosa para atender às necessidades de todos os membros. Owen, por sua vez, fundou comunidades experimentais como New Lanark na Escócia, onde implementou reformas sociais e condições de trabalho melhoradas para demonstrar que uma organização econômica mais justa era possível. Já Cabet promoveu a ideia de uma sociedade ideal chamada Icária, baseada em princípios de igualdade e cooperação, e tentou estabelecer comunidades que seguissem esses princípios.

O socialismo cristão, associado a líderes como o Papa Leão XIII, surge como uma abordagem que procura reconciliar os princípios sociais do cristianismo com as ideias socialistas. No final do século XIX, o Papa Leão XIII, com sua encíclica *Rerum Novarum* (1891), abordou a necessidade de justiça social e a dignidade dos trabalhadores em resposta à Revolução Industrial e ao crescente capitalismo. Ele promoveu a ideia de que a Igreja deveria estar envolvida na defesa dos direitos dos pobres e trabalhadores, enquanto se opunha tanto ao socialismo revolucionário quanto ao liberalismo econômico extremo. A proposta era construir uma sociedade mais justa e equitativa, respeitando os valores cristãos de solidariedade e caridade, e incentivando reformas que pudessem mitigar as injustiças sociais sem comprometer os princípios da ordem social e da propriedade privada.

O socialismo científico, desenvolvido por Karl Marx e Friedrich Engels, oferece uma abordagem mais sistemática e crítica do socialismo. Ao contrário do socialismo utópico, o socialismo científico fundamenta suas propostas em uma análise rigorosa das condições materiais e sociais da sociedade capitalista. Marx e Engels argumentam que a luta de classes é o motor da história e que a transformação social só pode ser alcançada por meio da revolução proletária, que derrubaria o sistema capitalista e instauraria uma sociedade sem classes. Marx descreveu essa transição em suas obras, como "O Manifesto Comunista" e "O Capital", onde detalha como a propriedade privada e as relações de produção capitalistas levam à exploração e desigualdade. O socialismo científico propõe uma análise da história e da economia para entender as forças que moldam a sociedade e buscar uma mudança radical e sistemática para a construção de uma sociedade comunista, onde a propriedade e os recursos seriam coletivamente controlados e a exploração seria erradicada.

Comunismo

 O comunismo é uma ideologia política e econômica que busca a criação de uma sociedade sem classes, onde a propriedade dos meios de produção e recursos é de propriedade comum e administrada coletivamente. A ideia central do comunismo é eliminar as desigualdades sociais e econômicas resultantes do capitalismo, promovendo uma distribuição equitativa de riqueza e poder. Na teoria comunista, o Estado inicialmente desempenha um papel central na transição para uma sociedade comunista, gerenciando a economia e organizando a produção e a distribuição de bens. No entanto, a visão final do comunismo é uma sociedade sem Estado, onde as necessidades humanas são atendidas de acordo com os princípios de "de cada um segundo sua capacidade, a cada um segundo suas necessidades". Essa sociedade ideal seria caracterizada pela ausência de classes sociais, exploração e opressão. O comunismo foi amplamente influenciado pelos escritos de Karl Marx e Friedrich Engels, particularmente em obras como "O Manifesto Comunista" e "O Capital". Historicamente, o comunismo foi implementado de maneiras variadas em diferentes países, muitas vezes através de revoluções e regimes que procuraram construir sociedades socialistas como etapa intermediária para o comunismo pleno. No entanto, as práticas reais frequentemente divergem das teorias comunistas, resultando em debates e críticas sobre a eficácia e a viabilidade da ideologia

Anarquismo

O anarquismo é uma ideologia política que advoga pela eliminação de todas as formas de hierarquia e autoridade coercitiva, defendendo uma sociedade baseada na cooperação voluntária e na autogestão. Os anarquistas acreditam que instituições como o Estado, o capitalismo e outras formas de poder autoritário são opressivas e que uma sociedade justa e livre pode ser organizada sem essas estruturas. Em vez de uma autoridade centralizada, o anarquismo propõe uma organização social descentralizada, onde indivíduos e comunidades se auto administram através de associações voluntárias e consensuais

Existem várias correntes dentro do anarquismo, cada uma com suas próprias propostas sobre como alcançar e organizar uma sociedade sem Estado. O anarquismo coletivo, defendido por figuras como Mikhail Bakunin, busca uma forma de socialismo que mantém a propriedade coletiva dos meios de produção e a eliminação das desigualdades sociais. O anarquismo individualista, influenciado por pensadores como Max Stirner, enfatiza a autonomia individual e a liberdade pessoal, muitas vezes criticando tanto o Estado quanto as formas coletivas de organização. O anarquismo mutualista, promovido por Pierre-Joseph Proudhon, combina elementos de socialismo e individualismo, defendendo uma economia baseada em trocas mutuamente benéficas e a abolição da propriedade privada em favor da posse pessoal.

A prática do anarquismo tem variado historicamente, desde movimentos revolucionários e experimentos sociais até ações diretas e protestos. Anarquistas têm desempenhado papéis significativos em várias lutas sociais e políticas, promovendo a igualdade, a justiça e a solidariedade em diferentes contextos. A visão anarquista continua a inspirar debates sobre a natureza do poder, a autoridade e a liberdade na sociedade contemporânea.

No século XIX, muitos pensadores buscavam encontrar soluções para os problemas sociais, econômicos e políticos que estavam em emergência na população da época. O anarquismo, então, surge como uma alternativa em que toda e qualquer instituição hierárquica seriam abolidas.

Anarquistas são contra toda forma de dominação, regras, normativas. Ou seja, deveria predominar a liberdade individual e coletiva, em vez de criar um conjunto de regras. É a expressão de uma insatisfação com todo o contexto social, econômico e político, bem como um desacordo em relação aos posicionamentos dos governos, igreja, escola e outras entidades sociais.


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