Período Regencial

Características do Período Regencial

O Período Regencial (1831- 1840) foi a época em que o Brasil foi governado por regências, pois o herdeiro do trono era menor de idade.

Este período é caracterizado por momentos de grande conturbação no Brasil com várias revoltas civis.

Termina com o Golpe da Maioridade que levou ao trono D. Pedro II aos 14 anos de idade.

Dom Pedro I enfrentava vários problemas internos como falta de apoio das elites econômicas e externos, como a derrota na Guerra da Cisplatina.

Além disso, com a morte de Dom João VI, em Portugal, ele havia sido aclamado D. Pedro IV de Portugal.

Neste momento em que o imperador perde a sua popularidade, decide abdicar ao trono brasileiro. Nessa altura, porém, o seu herdeiro, D. Pedro II, não podia governar, pois tinha 5 anos de idade. A solução, prevista pela Constituição de 1824, era formar uma Regência até que D. Pedro II atingisse a maioridade.

Tendências políticas

Restauradores: Queriam a volta de Dom Pedro I, porém quando ele morre estes perdem seu sentido.

Liberais: Ambos defendiam maior autonomia às províncias.

Exaltados - Eram mais radicais, já falavam na ideia de instituir uma república.

Moderados - Oligarcas que defendiam uma monarquia constitucional.

ATO ADICIONAL - 1834

De acordo com o Ato Adicional, as províncias poderiam formar suas próprias Assembleias Legislativas. Por meio dessa tal instituição, os representantes políticos locais controlariam a arrecadação de impostos e os gastos do poder local. Além de criarem leis, os membros dessa assembleia tinham autonomia para nomearem os funcionários do governo. Com o passar do tempo, esse último tópico se transformou em barganha política destinada à compra de votos.

GUARDA NACIONAL - 1831

O ministro Diogo Antônio Feijó criou a Guarda Nacional com o objetivo de defender a constituição, a liberdade, a independência, a integridade do Império e conter a ameaça de classes perigosas, atuando na repressão de revoltas, por exemplo.

Revoltas do Período Regencial

Abre-se uma época de grande disputa de poder e instabilidade política que dão origem a uma série conflitos:

  • Cabanagem, na Província do Grão-Pará (1835 – 1840);
  • Guerra dos Farrapos (ou Revolução Farroupilha), na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul (1835 – 1845);
  • Revolta dos Malês, Província da Bahia (1835);
  • Sabinada, na Província da Bahia (1837 – 1838);
  • Balaiada, na Província do Maranhão (1838 – 1841).


Sabinada

A Sabinada foi um levante armado ocorrido na província da Bahia, entre novembro de 1837 e março de 1838, tendo como palco principal a cidade de Salvador.

O nome do movimento se deve ao seu líder, Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira. Ele era um reconhecido médico e jornalista em Salvador, além de um revolucionário defensor do federalismo.

Podemos citar como principais causas da revolta:

  • Insatisfação diante da falta de autonomia política e administrativa da província, agravada pela regência do conservador Araújo Lima.
  • O recrutamento obrigatório imposto aos baianos em função da Guerra dos Farrapos.
  • O forte sentimento antilusitano na Bahia.

Principais Características

A Sabinada foi mais uma das revoltas do Período Regencial, junto à Balaiada no Maranhão, à Cabanagem no Grão-Pará e à Farroupilha no Rio Grande do Sul. Porém, ela se diferencia dos movimentos acima porque tinha uma intenção separatista temporária.

O objetivo dos revoltosos era apenas constituir uma "República Bahamense" até D. Pedro II alcançar a maioridade. Portanto, sua insatisfação foi estritamente dirigida ao governo regencial.

Além disso, é preciso notar que a Sabinada não pretendia romper com a escravidão, pois desejava o apoio das elites escravocratas, o que não ocorreu.

Entretanto, isso afastou a população escrava, a qual não foi convencida pela promessa de concessão de liberdade aos que lutassem e apoiassem o governo republicano.

Desta maneira, o levante contou com a adesão das camadas médias urbanas, principalmente oficiais militares, funcionários públicos, profissionais liberais, comerciantes, artesãos e uma parcela das camadas mais pobres da população.

A Revolta

Na noite de 6 de novembro de 1837, um grupo de revoltosos comandados por Francisco Sabino ocupou o Forte de São Pedro, apoiados pelas tropas locais. No dia seguinte, dirigiram-se à Praça do Palácio e convocaram uma sessão extraordinária da Câmara Municipal, assumindo assim o controle de Salvador.

Por sua vez, a primeira força legalista enviada para debandar os amotinados acabou se juntando a eles, engrossando ainda mais suas fileiras.

Assim, com a Câmara Municipal ocupada, Sabino foi nomeado secretário de governo da "República Bahiana".
Em seguida, nomeia dois líderes para seu governo: Daniel Gomes de Freitas, como Ministro da Guerra e Manoel Pedro de Freitas Guimarães, como Ministro da Marinha.

Num período de quatro meses, os revoltosos conquistaram diversos quartéis militares nos arredores de Salvador. Enquanto isso, as forças legalistas se reagrupavam no Recôncavo Baiano para o contra-ataque.

Com efeito, no dia 15 de março de 1838, tem início a ofensiva regencial, com o bloqueio terrestre e marítimo da cidade. Assim que foi sitiada, a emigração maciça da população de Salvador começou; em pouco tempo, houve escassez de alimentos.

Consequências

Com a ajuda do exército e de milícias locais, as forças regenciais reconquistaram a cidade. A revolta foi duramente reprimida e deixou um saldo de aproximadamente duas mil mortes e três mil prisões.

Guerra dos Farrapos


A Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha foi a mais longa rebelião do período regencial do Brasil.

Ocorreu no Rio Grande do Sul e durou dez anos, de 1835 até 1845, época que compreende a regência de Feijó e o Segundo Reinado. O termo "farrapo" se referia aos trajes maltrapilhos que o exército rebelde usava.

A revolta foi mobilizada pelos grandes proprietários de terra do Rio Grande do Sul, insatisfeitos com os altos impostos cobrados pelo governo imperial sobre seus produtos. Por isso, constataram que a separação e a república seriam uma forma de obter liberdade comercial e política.

Os negros escravizados também foram recrutados para lutar, sob a promessa de liberdade, no caso de vitória na guerra contra o império.

A Revolução Farroupilha se encerra com o Tratado de Poncho Verde, em 1º de março de 1845.

Causas da Guerra dos Farrapos

A Guerra dos Farrapos foi promovida pela classe dominante gaúcha. Constituída de estanceiros que eram os donos de grandes propriedades rurais, gado e negros escravizados. Indignados com os elevados impostos territoriais, além de altas taxas sobre as exportações de charque, couro e sebos.

Os estanceiros protestavam, pois o charque gaúcho devia pagar 25% de impostos enquanto o uruguaio pagava somente 4% para ser vendido no Rio de Janeiro.

Também havia um ressentimento contra o governo imperial que sempre recrutava homens e cavalos para as lutas com os territórios fronteiriços, mas pouco beneficiava a sociedade local.

A revolução foi favorecida pelo caráter militarizado da sociedade rio-grandense, organizada em meio a lutas como a disputa pela Colônia do Sacramento, no século XVIII.

Além disso, as ideias republicanas e federativas encontravam receptividade entre os rio-grandenses, estimulados pelas vizinhas repúblicas platinas.

Agravando a situação, em 1835, o regente Feijó nomeou o moderado Antônio Rodrigues Fernandes Braga como presidente da província, o que não foi aceito pelos gaúchos. Na Assembleia Provincial, tornou-se cada vez mais viva a oposição ao presidente Fernandes Braga.

Os Conflitos Farroupilhas

No dia 20 de setembro de 1835, uma revolta armada, com pouco mais de 200 cavaleiros se estabeleceu nos arredores da capital, Porto Alegre. Uma pequena força armada enviada para dispersar os rebeldes foi repelida e obrigada a regressar.

Fernandes Braga fugiu para a vila de Rio Grande, instalando aí seu governo. No dia seguinte, o comandante da Guarda Nacional local, Bento Gonçalves, um dos líderes do movimento, entrava em Porto Alegre e, com o apoio da Assembleia Provincial, em 1836, proclamou a República do Piratini.

Diante desta situação, o regente Feijó nomeou novo presidente para a província, José de Araújo Ribeiro, futuro visconde do Rio Grande. A guerra continuou e os legalistas conseguiram prender vários chefes rebeldes, entre eles Bento Gonçalves, que foi mandado para o Forte do Mar (BA), de onde fugiu nadando.

 Em setembro de 1837, Bento Gonçalves regressa ao Sul e é eleito presidente da República do Piratini. A luta dos rebeldes era cada vez mais popular e com o apoio do revolucionário italiano Giuseppe Garibaldi o movimento se propagou.

Enquanto isso, devido a disputas políticas, Feijó foi obrigado a renunciar. Iniciou-se a regência de Araújo Lima, apoiado pelos conservadores.

Em 1839, David Canabarro, um dos líderes da revolta, com a colaboração de Giuseppe Garibaldi, tomou Laguna (SC). Ali, conheceria sua futura esposa e companheira de lutas, Anita Garibaldi.

Fundou-se nessa província a República Juliana, confederada à República Rio-grandense, alargando o cenário da revolução.

Em 1840, com a maioridade antecipada de dom Pedro II, foi concedida anistia a todos os revoltosos políticos do período regencial.

Então, o novo presidente do Rio Grande do Sul, Álvaro Machado, nomeado pelo governo imperial, tentou convencer os rebeldes a terminar a guerra e aceitar a anistia, mas nada conseguiu.

O Massacre de Porongos e o fim do conflito

Em 1842, para terminar com o conflito, Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, foi nomeado presidente do Rio Grande do Sul e comandante das armas. O objetivo era acabar com a luta e pacificar a província.

Diante das derrotas, os farroupilhas negociaram o fim do conflito com o governo imperial. No entanto, faltava solucionar a questão dos negros escravizados que haviam lutado durante dez anos.


O governo imperial não aceitava a libertação e, por outro lado, alguns líderes farroupilhas concordaram em devolvê-los para seus antigos proprietários. No entanto, isso seria uma traição e poderia acabar em uma rebelião.

Por isso, em 14 de novembro de 1844, o acampamento farroupilha – liderado por Canabarro - é atacado por tropas imperiais. Contudo, onde estavam os lanceiros negros recebeu a maior parte do ataque e não obteve nenhuma ajuda nos seus próprios companheiros de armas.

Em 1845, os rebeldes aceitaram a proposta de paz oferecida pelo governo. O Tratado de Poncho Verde estabelecia:

  • anistia;
  • incorporação dos oficiais farroupilhas ao exército imperial;
  • libertação dos escravos que haviam lutado ao lado dos farroupilhas;
  • devolução das terras que haviam sido tomadas dos rebeldes;
  • diminuição dos impostos naquela província e
  • fortalecimento da Assembleia Provincial.

A Guerra dos Farrapos representou uma vitória militar das tropas do Império, mas uma vitória política do lado dos farrapos.

Revolta dos Malês

Revolta dos Malês é conhecida por ter sido a maior revolta de escravos da história brasileira, mobilizando 600 africanos escravizados que lutaram pela sua liberdade."A escravidão foi uma instituição que existiu no Brasil durante mais de 300 anos, e indígenas, africanos e seus descendentes foram escravizados ao longo desse período. A história da escravização é também a história das fugas, das lutas, isto é, da resistência em geral daqueles que foram escravizados.

O Brasil foi o país que recebeu o maior número de africanos escravizados: quase cinco milhões. Isso significa que, ao longo dos séculos, a resistência contra a escravidão manifestou-se de diversas maneiras, e locais como o Quilombo dos Palmares foram transformados em um dos grandes símbolos de luta.

As revoltas de escravos também foram uma das formas de resistência extremamente comuns e aconteceram em todo o país. Poderiam ser violentas e resultarem na morte de senhores de escravos e suas famílias, e muitas procuravam a subversão da ordem. Quanto mais escravos presentes em uma região, maiores as chances de que revoltas acontecessem, e a Bahia do começo do século XIX ficou marcada por isso.

Bahia escravista do século XIX

A Bahia do começo do século XIX ficou marcada por um grande número de revoltas de escravos. A Bahia também foi um dos estados que mais recebeu africanos escravizados pelo tráfico negreiro. Desses, os dois principais grupos eram os nagôs (iorubás) e os haussás. A quantidade de revoltas de escravos está diretamente relacionada com o alto número de escravos naquela província.

A grande presença de nagôs e haussás também contribui para isso, pois eram povos que tinham histórico recente de envolvimento com guerras. Assim, a Bahia da primeira metade do século XIX abrigou trinta revoltas de escravos, sendo que metade dessas aconteceu na década de 1820. Uma das primeiras agitações desse período foi a Revolta de 1807.

Esse levante foi descoberto antes de ser iniciado, e sua descoberta aconteceu no mês de maio de 1807. Os escravos que se organizavam tinham em seus planos a realização de ataques contra igrejas católicas e suas imagens e queriam instalar uma autoridade muçulmana no poder de Salvador. Depois planejavam conquistar outros locais do Nordeste.

Inúmeras revoltas aconteceram nos anos seguintes, mas a história da resistência e das revoltas escravas ficou marcada pela Revolta do Malês, que aconteceu em Salvador, em 1835, e mobilizou 600 escravos em busca de sua liberdade. O temor causado por essa insurreição ficou gravado no imaginário dos senhores que temiam que uma nova ação desse tipo acontecesse no Brasil.

Participantes

A Revolta do Malês aconteceu em Salvador e passou-se na madrugada do dia 25 de janeiro de 1835. Naquela época, essa capital era uma das principais cidades escravistas do Brasil e possuía apenas 22% de sua população formada por brancos livres. Os escravos africanos (e seus descendentes) eram 40% da população total da cidade que, na época, era de 65 mil habitantes.

Foi nesse cenário que se deu a maior revolta de escravos do Brasil. Os participantes da Revolta dos Malês foram na sua maioria nagôs, mas sabe-se também que o levante contou com a participação de africanos haussás e tapas (conhecidos também como nupes). A maioria dos envolvidos era muçulmana, mas muitos também eram adeptos de religiões de matriz africana.

O envolvimento dos muçulmanos foi algo marcante nesse acontecimento e evidenciou o papel da religião na luta por transformação social. A importância dos muçulmanos foi tão grande que influenciou na forma como essa revolta foi chamada. A palavra malês é oriunda de imalê, expressão que no idioma Iorubá significa muçulmano.

A revolta contou com a participação de 600 africanos escravizados, e os líderes dela combinaram para que ela acontecesse no final do Ramadã, mês sagrado para os muçulmanos. A revolta ficou marcada exatamente para o dia de Lailat al-Qadr, a festa da Noite da Glória — momento em que o Corão foi revelado para Muhammad (Maomé), o profeta do islamismo.

Os participantes da Revolta dos Malês eram todos africanos, e existem evidências que apontam que, se vitoriosos, os rebeldes pretendiam voltar-se contra toda a população nascida no Brasil. Os envolvidos também eram majoritariamente escravos urbanos, e pouquíssimos escravos da lavoura participaram dessa revolta. Os poucos escravos da lavoura que participaram eram do Recôncavo Baiano (arredores de Salvador).

Líderes

A Revolta dos Malês teve oito líderes, cuja maioria era nagô. Seus nomes eram Ahuna; Pacífico Licutan; Sule ou Nicobé; Dassalu ou Damalu; Gustar; Manoel Calafete (liberto); Luís Sanim; e Elesbão do Carmo ou Dandará. A listagem desses nomes foi apresentada pelo historiador João José Reis.

Desfecho

A Revolta dos Malês eclodiu abruptamente na madrugada do dia 25 de janeiro, porque a trama havia sido denunciada e todo o planejamento ruiu-se quando isso aconteceu. A revolta tinha sido planejada pelos escravos urbanos, que se aproveitavam da maior liberdade de locomoção que possuíam em relação aos escravos que trabalhavam na lavoura.

Como mencionado, a revolta teve um forte envolvimento com o islamismo, e isso ficou perceptível porque os africanos que se rebelaram estavam usando um abadá branco, traje típico dos muçulmanos. Além disso, muitos deles usavam amuletos com passagens do Corão escritas em árabe. Eles acreditavam que esses amuletos protegeriam seus corpos.

Os combates espalharam-se horas a fio pelas ruas de Salvador e resultaram na morte de 70 dos africanos envolvidos e em nove mortes nas forças que lutavam contra os rebeldes. A última batalha deu-se em um local de Salvador chamado Água de Meninos. Muitos dos africanos, encurralados, procuraram fugir pelo mar e acabaram afogados. A Revolta dos Malês, portanto, fracassou.

Punições

As punições contra os envolvidos foram severas e alcançaram até os libertos que não se envolveram com a dita revolta. Os punidos sofreram com a prisão, o açoite, a deportação e a execução. Ao todo, quatro dos envolvidos foram condenados à morte, sendo eles: Jorge da Cruz Barbosa (Ajahi), Pedro, Gonçalo e Joaquim. Esses quatro foram executados por fuzilamento.

Essa intentona contribuiu para aumentar a repressão sobre a população de escravos e libertos em Salvador. Uma lei aprovada naquele ano determinava que todos os africanos e descendentes suspeitos de envolverem-se com revoltas escravas seriam deportados para o continente africano. Existem estatísticas que apontam que houve a deportação de milhares de negros para a África.

Essa rigidez acontecia porque os escravocratas temiam que uma rebelião de escravos nos moldes da Revolução Haitiana acontecesse no Brasil. Conforme pontuou João José Reis, "o Haiti penetrou, como um pesadelo, as casas senhoriais, os palácios governamentais e mesmo os clubs rebeldes brancos".

Cabanagem

A Cabanagem ou a Guerra dos Cabanos foi uma revolta popular extremamente violenta, ocorrida de 1835 a 1840, na província do Grão-Pará.

A rebelião envolveu diferentes setores da sociedade. De um lado, a elite formada por fazendeiros e comerciantes tinha por objetivo garantir o poder político da província e assegurar seus interesses, que acreditavam ameaçados desde a Independência.

Por outro lado, a população pobre se rebelara contra a violência e as condições de trabalho, que muitas vezes os submetiam a condições semelhantes à escravidão.

Contexto histórico e político

Nos anos de 1835-1840, o Império do Brasil vivia o período regencial.

Dom Pedro I havia abdicado em favor do seu filho que tinha apenas cinco anos. Por isso, foi instituída a Regência, período entre 1831 e 1840, no qual o Brasil foi governado por lideranças políticas da capital do império.

Contudo, várias províncias não estavam satisfeitas com o poder centralizado e desejavam ter mais autonomia. Algumas, inclusive, queriam separar-se do Império do Brasil.

Insurreições como a Farroupilha, Balaiada e Sabinada, explodiram em todo território brasileiro.

A província do Grão-Pará compreende os atuais estados de Amazonas, Pará, Amapá, Roraima e Rondônia.

Ao longo do período colonial, o Grão-Pará tinha mais contato com Lisboa do que com o Rio de Janeiro. Por isso, foi uma das últimas a aceitar a independência, passando a fazer parte do Império brasileiro em 1823.

A Revolta da Cabanagem teve um alcance considerável e se espalhou pelos rios Amazonas, Madeira, Tocantins e seus afluentes.

O nome do movimento faz alusão à moradia típica da população pobre da província, formada por ribeirinhos de origem indígena e negra, habitantes de cabanas construídas sobre palafitas às margens dos rios. "Cabanos" era o nome dado aos moradores dessas habitações e, por extensão, aos participantes da revolta.

Principais causas da revolta da Cabanagem

Dentre as principais causas da revolta podemos apontar:

  • As disputas políticas e territoriais entre as elites do Grão-Pará;
  • A ambição das elites locais em tomar as decisões político-administrativas da província;
  • O descontentamento com as decisões do governo regencial;
  • Os cabanos, por sua parte, queriam melhores condições de vida e trabalho.

Vale citar que, sobre isso, as referidas elites tomaram proveito da insatisfação popular para sublevar as populações contra o governo regencial.

O desenvolvimento da revolta (principais eventos e confrontos)

Desde a independência do Brasil, em 1822, as elites do Grão-Pará se ressentiam com a presença dos comerciantes portugueses na província.

No governo de D. Pedro I, os proprietários e comerciantes estavam insatisfeitos com o tratamento recebido por parte do governo central.

Além disso, sofriam com a repressão do Governador Bernardo Lobo de Sousa desde 1833, que ordenou deportações e prisões arbitrárias para quem se opusesse a ele.

Assim, em agosto de 1835, os cabanos se amotinam, sob a liderança dos fazendeiros Félix Clemente Malcher e Francisco Vinagre, culminando na execução do Governador Bernardo Lobo de Sousa.

Em seguida, indicam Malcher para presidente da província. Na ocasião, os revoltosos se apoderaram dos armamentos legalistas e se fortaleceram ainda mais.

Contudo, Malcher foi considerado um traidor pelo movimento, por atender as exigências do governo imperial e tentar reprimir os revoltosos, mandando prender Eduardo Angelim, um dos líderes do movimento. Após um sangrento conflito, Malcher é morto pelos "cabanos" e substituído por Francisco Pedro Vinagre.

Em julho de 1835, o então presidente da província recém-conquistada, aceita sua rendição mediante a anistia geral dos revolucionários e por melhores condições de vida para a população carente. Contudo, é traído e preso.

Inconformado, seu irmão, Antônio Vinagre, reorganiza as forças militares da cabanagem e ataca o Palácio de Belém, conquistando-o novamente em 14 de agosto de 1835.

Na ocasião, Eduardo Angelim é feito presidente de um governo republicano independente. No entanto, o desacordo entre os líderes do movimento enfraquece a revolta e facilitaram o contra-ataque legalista.

Assim, em 1836, enviado pelo regente Feijó, o Brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa, comandante das forças regenciais do Grão-Pará, autoriza a guerra total aos cabanos. Ele ordena o bombardeio à Belém e aos assentamentos da cabanagem.

Desse modo, com a ajuda de mercenários estrangeiros e soldados imperiais, a revolta é sufocada. Eduardo Angelim é capturado e enviado ao Rio de Janeiro.

Por fim, em 1840, a maioria dos revoltosos já havia se dispersado ou tinham sido presos e mortos, devido às perseguições, que seguiram mesmo após 1836.

Com a ascensão de Dom Pedro II ao trono, em 1840, os prisioneiros foram anistiados.

Quem foram os líderes da Cabanagem

Entre os principais líderes destacam-se:

  • Félix Malcher: Inicialmente um dos líderes da revolta, chegou a ser presidente da Província do Grão-Pará após a tomada de Belém. Sua gestão, contudo, foi breve e marcada por divergências internas, levando à sua deposição e posterior execução pelos próprios cabanos.
  • Francisco Vinagre: Assumiu o controle após Malcher, mas sua liderança também foi curta devido a conflitos internos e descontentamentos.
  • Eduardo Angelim: Talvez o mais conhecido dos líderes cabanos, destacou-se por sua persistência e resistência, mesmo frente às adversidades e à intensa repressão imperial.

Consequências da Cabanagem

Embora a perseguição tenha sido violenta, alguns revolucionários conseguiram escapar e fugiram para a floresta, o que permitiu a sobrevivência dos ideais da cabanagem mesmo após sua derrota.

A Cabanagem deixou uma carnificina de mais de trinta mil mortos, cerca 30% a 40% da população da província à época. Dizimou populações ribeirinhas, quilombolas, indígenas, bem como membros da elite local.

Também desorganizou o tráfico de escravos e os quilombos se multiplicaram na região.

Curiosidades

  • As mulheres foram fundamentais na Cabanagem, pois eram elas que levavam informações e comida para o bando revoltado.
  • A Cabanagem foi uma das poucas revoltas do período regencial que congregou várias classes sociais.
  • Em Belém existe o Memorial da Cabanagem que abriga os restos mortais dos líderes da revolta.
  • Em 2016, a Cabanagem inspirou um musical, escrito por Valdecir Manuel Affonso Palhares e com música de Luiz Pardal e Jacinto Kahwage.


Balaiada

A Balaiada foi uma luta popular que sucedeu na província do Maranhão durante os anos de 1838 e 1841.

A revolta surgiu como um levante social por melhores condições de vida e contou com a participação de vaqueiros, escravos e outros desfavorecidos.

O nome dessa luta popular provém dos "balaios", nome dos cestos fabricados na região.

Principais Causas

As principais causas da Balaiada estão ligadas à pobreza da população da província maranhense, bem como sua insatisfação diante dos desmandos políticos dos grandes fazendeiros da região.

Estes lutavam pela hegemonia política e não se importavam com a miséria da população, a qual ainda sofria com as injustiças e abuso de poder pelas autoridades.

Aquela elite política estava dividida entre dois partidos:

  • Bem-te-vis: liberais, que apoiaram indiretamente os balaios no início da revolta;
  • Cabanos: conservadores, que estiveram contra aos balaios.

Enquanto os dois partidos lutavam pelo poder na província, a crise econômica se agravou ainda mais pela concorrência do algodão norte-americano. Isso provocou uma situação insustentável entre as elites e a população carente.

Apesar desta situação, os ruralistas instituíram a "Lei dos Prefeitos". Ela permitia a nomeação de prefeitos pelo governador da província e causaram vários focos de revolta, dando início à Balaiada.

A Revolta

Já sabemos que a Balaiada careceu de uma firme liderança. Contudo, algumas figuras se destacaram no levante, especialmente pela capacidade de empreender estratégias de guerrilha contra as forças imperiais.

Um dos líderes de maior destaque foi também aquele que ascendeu o estopim da revolta da balaiada.

Ao ter o irmão detido em Vila da Manga, o vaqueiro Raimundo Gomes e seus amigos atacaram a cadeia pública da vila. Libertaram todos os prisioneiros no dia 13 de dezembro de 1838, se apossando de um número considerável de armas e munições.

Paralelamente, o artesão e fabricante de balaios Manoel dos Anjos Ferreira, resolve fazer justiça com as próprias mãos após um soldado desonrar suas filhas.

Furioso e determinado, ele monta um bando armado e ataca diversas vilas e fazendas no Maranhão. Em seguida, estes líderes se agrupam e se unem a um terceiro comandante: o negro Cosme Bento de Chagas, quilombola e chefe militar de aproximadamente 3 mil negros.

Em 1839, após um período de vitórias, nas quais foram capturadas algumas vilas importantes, como Vila de Caxias e Vargem Grande, os revoltosos estabeleceram uma Junta Provisória.

Contudo, o movimento começa a apresentar sinais de enfraquecimento após a morte de Manoel dos Anjos, o Balaio, atingido por um projétil durante um dos conflitos.

Neste mesmo ano, assume a liderança o ex-escravo Cosme, o qual se retira do combate e leva suas forças para o sertão.

Batalha Final

A situação dos revoltosos piorou ainda mais quando o experiente militar, Coronel Luís Alves de Lima e Silva (futuro Duque de Caxias) assume o comando de todas as tropas do Maranhão, Piauí e Ceará. As tropas eram composta de mais de 8 mil homens bem armados no dia 7 de fevereiro de 1840.

Não sem esforço, o Coronel derrota Raimundo Gomes, o qual, cercado e isolado, se rende e entrega a Vila de Caxias às tropas oficiais. É o inicio do fim.

Em 1840, o recém coroado imperador Dom Pedro II, resolve anistiar os rebeldes que se entregarem. Imediatamente, mais de 2.500 balaios se rendem.

Com isso, Luís Alves de Lima e Silva esmaga definitivamente aqueles que continuavam lutando em 1841. Neste mesmo ano, Cosme Bento é capturado e enforcado. Por sua vez, o vaqueiro Raimundo Gomes é expulso da província e morre no caminho para São Paulo.

Ao retornar vitorioso à capital, o Coronel Luís Alves de Lima e Silva recebeu o título de Barão de Caxias, por ter sufocado esta revolta social.

Curiosidade

Atualmente, no município de Caxias, existe o Memorial da Balaiada, inteiramente dedicado à história da rebelião.


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Golpe da Maioridade

O Golpe da Maioridade, ocorrido em 1840, foi um movimento político que antecipou a maioridade de Dom Pedro II, permitindo que ele assumisse o trono aos 14 anos. O golpe surgiu em um contexto de instabilidade e insatisfação com as regências que governavam desde a abdicação de Dom Pedro I em 1831. Grupos políticos acreditavam que a figura de um imperador poderia restaurar a ordem e unificar facções em conflito.

Em 23 de abril de 1840, a maioridade foi declarada e Dom Pedro II foi aclamado imperador, recebendo apoio de diversos setores da sociedade. Sua ascensão marcou o início de um novo capítulo na história do Brasil, caracterizado por um forte compromisso com a modernização, educação e desenvolvimento econômico. O Golpe da Maioridade estabeleceu as bases para a estabilidade política do Segundo Reinado, que duraria até a Proclamação da República em 1889.

Resumo

O Período Regencial no Brasil, que ocorreu de 1831 a 1840, foi uma fase de instabilidade política e social, marcada pela administração de regências devido à menoridade de Dom Pedro II. Após a abdicação de seu pai, Dom Pedro I, em 1831, o Brasil enfrentou uma série de crises, tanto internas quanto externas. Dom Pedro I lidava com problemas significativos, como a falta de apoio das elites econômicas e a derrota na Guerra da Cisplatina, que resultou na perda da Cisplatina (atual Uruguai).

Com a morte de Dom João VI em Portugal, Dom Pedro I foi aclamado como Dom Pedro IV, o que diminuiu ainda mais sua popularidade e culminou em sua abdicação. Como seu filho, Dom Pedro II, era muito jovem para governar, a Constituição de 1824 previu a formação de uma Regência até que o herdeiro atingisse a maioridade.

Esse período foi marcado por uma intensa disputa de poder e várias revoltas civis. A falta de uma liderança forte levou a uma série de movimentos que refletiram o descontentamento popular:

Cabanagem (1835-1840): Uma revolta na Província do Grão-Pará, onde as classes populares lutaram contra a elite local e o governo central, buscando maior autonomia e melhorias nas condições de vida.

Guerra dos Farrapos (ou Revolução Farroupilha) (1835-1845): Ocorreu na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, motivada por questões econômicas e políticas. Os farrapos, liderados por figuras como Bento Gonçalves, buscavam independência e a implementação de um governo republicano.

Revolta dos Malês (1835): Uma insurreição na Bahia protagonizada por escravizados e muçulmanos, que lutavam por liberdade e melhores condições sociais. A revolta foi reprimida, mas destacou a luta pela emancipação.

 Sabinada (1837-1838): Uma revolta na Bahia liderada por intelectuais e militares, que buscavam autonomia e reformas políticas. Embora tenha tido apoio popular, foi rapidamente sufocada pelas autoridades.

Balaiada (1838-1841): Um movimento popular no Maranhão que refletiu as demandas sociais e políticas das classes mais baixas. Os balaios, como eram chamados os revoltosos, lutavam por melhores condições de vida e por uma maior participação política.

O Período Regencial terminou com o Golpe da Maioridade, em 1840, quando Dom Pedro II assumiu o trono aos 14 anos, buscando restaurar a estabilidade no país. Essa fase é essencial para entender as bases da política brasileira e os desafios que o país enfrentaria nas décadas seguintes.

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